quarta-feira, 28 de julho de 2010

Pois se Deus nos deu voz...

Técnicas vocais existentes no Mundo

VOZ ESPANHOLA
A voz espanhola parece uma emissão muito natural. É uma voz orgânica e espontânea. Apresenta um timbre quente. A força e o volume dependem da respiração diafragmática apoiada na parte alta da cavidade torácica, produzindo por esta razão agudos pouco claros, pouco redondos e gritados. Esta técnica evita a cobertura de voz. A boca amplia sua abertura à medida que se dirige aos agudos. A laringe encontra-se geralmente elevada, movendo-se de acordo com o registro. O golpe de glote tem lugar importante.
VOZ FRANCESA
A voz francesa procura projetar-se através da compreensão verbal e dicção bem cuidada. A dinâmica geral é pouco animada, pois o francês é uma língua ligeira. A direção é horizontal. A voz é mais labial que bucal. O “e” mudo do francês e os sons nasais oferecem grande dificuldade de produção.
A respiração dominante caracteriza-se por um fechamento muito rápido das costelas, o que determina uma carência de sustentação e produz perda de sonoridade. A respiração curta provoca uma fadiga generalizada e pulmonar.
VOZ ITALIANA
A Itália é o país do “bel canto”. Depois do século XX, surgem duas escolas de canto importantes:
1. Escola de Milão (emissão clara e projetada: ocupa-se dos sopranos e tenores);
2. Escola de Nápoles (emissão sombra cupa); ocupa-se dos contraltos, vozes graves e algumas vozes de tenores.
A escola de canto do norte é a que tem obtido grande consenso na Europa por sua clareza e projeção.
Q bel canto marca mais um repertório do que um estilo de canto. A princípio a escola italiana buscava força e volume, através da sustentação da respiração para sonorizar as frases longas. A prioridade está no mecanismo expiratório e não na agilidade glótica. No século XIX, o canto italiano desenvolve a cobertura vocal que permite ir de um registro a outro sem modificação no timbre da voz. Antes disso, o que se conhece “passagem da voz” era cantada obrigatoriamente em falsete.
A voz italiana é projetada e extrovertida por excelência. A dinâmica geral é simples e direta, de orientação oblíqua: ligeiramente para cima e dependente da intensidade e dos registros. Apresenta todo o espectro de harmônicos, do grave ao agudo e sua cor é clara. A base do canto italiano é a respiração, e o apoio situado na zona do epigástrio. A laringe sobe e abaixa de acordo com a mudança dos registros. O ataque da nota deve vir pelo apoio de sustentação do sopro e a garganta deve e par aberta. A voz palatal exige uma abertura mediana da boca e dos lábios, acentuada apenas nos agudos.
VOZ ALEMÃ
A direção a voz alemã é vertical. Os graves dominam em relação aos agudos. A cor da voz é bastante faríngea e às vezes velada, pouco vibrato. Como resultado, a sensação auditiva é de voz de tubo — voz na parte posterior da boca, palato mole. A posição laríngea é baixa, com aumento da faringe e elevação do véu palatino. A respiração é baixa: o ar é apoiado verticalmente sobre os músculos abdominais. É de base semelhante ao canto napolitano do ponto de vista fisiológico. Talvez a grande quantidade de consoantes posteriores na língua favoreça a ressonância na região posterior da boca.
VOZ DA EUROPA CENTRAL
As vozes da Europa central são as vozes checas, búlgaras, romenas, húngaras, polonesas, etc. São vozes de característica profunda, entubadas e com direção vertical. Apóiam-se na laringe com grande vibração no peito. Os harmônicos graves são dominantes. Estes países, especialmente Rússia e Bulgária, desenvolvem vozes de baixos. A coluna de ar é profunda, com respiração abdominal que se apóia “quase no solo”. A posição laríngea é baixa, boca é muito aberta tanto nos graves quanto nos agudos. A voz romena tem um som semelhante ao da voz espanhola e da voz italiana. A voz austríaca é quase sem vibrato.
VOZ INGLESA
Não existe uma escola de canto particular da língua inglesa. Desta forma a chamada voz inglesa utiliza as principais técnicas vocais européias, sobretudo as italianas e alemãs adaptadas às língua anglo-saxônica. Os ingleses são originais na voz do contratenor e preferem a escola de Milão à napolitana. Apresenta característica,suave, com emissão que oscila entre a obliqüidade italiana e a verticalidade alemã. A cor e o timbre são de uma emissão ligeira e delicada com sons claros e velados dando, por vezes, a sensação de uma voz entubada. A laringe é posicionada ligeiramente baixa e em bocejo, procurando atingir uma semicobertura e apresentando uma certa propensão ao vibrato. Tem as características típicas italianas em relação à forma de apoio do ar. A expiração apresenta retenção mediana, com apoio no peito, sem lançar um canto vigoroso. A pronúncia é cheia de vogais compensadas (nem abertas nem fechadas) e se presta a uma técnica vocal colorida por palavras e silabas que se compreendem muito bem. Esta técnica não é de fácil aplicação em todas as línguas.
VOZ NÓRDICA
A voz sueca e a norueguesa apresentam características de clareza e limpidez. São vozes que se projetam: a emissão é coberta e forte. Não é uma voz muito fechada. A direção é oblíqua e vertical, de acordo com o som que se deseja obter. Como na frança, utilizam a ressonância atrás do nariz. A respiração tem apoio abdominal na região epigástrica em todas as intensidades. A posição laríngea é ligeiramente baixa nos graves e se estabiliza numa região média. Nas regiões extremas do agudo, a projeção se dirige para a frente da boca, atingindo o som italiano da escola de Milão. Nas regiões agudas intermediárias utiliza a projeção no palato mole, como os alemães.
VOZ IN MASCHERA
A voz na máscara é uma técnica normalmente usada na França, Alemanha, Áustria e países nórdicos. Essa técnica produz nasalização da emissão, com projeção até a parte posterior do nariz, fixada entre os olhos. O conceito de voz de más:ara suscita confusão, uma vez que envolve duas concepções: uma relacionada à ressonância nasal francesa e outra à palatal do canto italiano. O termo voce in maschera é urna imagem relacionada com a não-oclusão da nasofaringe, propiciando o livre funcionamento do músculo constritor Faríngeo, evitando problemas no fechamento glótico e na produção dos agudos.
VOZ MOIRÈE
Esta é uma voz rica em possibilidades e que põe em prática todos os mecanismos segundo o tipo de música (ópera, oratório, melódica, canção etc.). Utiliza-se uma técnica vocal fisiológica com suas adaptações particulares à língua, tipo de música, interpretação e características próprias do indivíduo.
VOZ NO CANTO POPULAR
O canto popular não segue os mesmos princípios do canto clássico. É uma voz espontânea, natural e que dá características do canto da região. É um meio de expressão que não chega a intelectualizar ou fazer consciente uma quantidade de mecanismos que devem funcionar na música culta profissional.
CRIANÇA CANTORA
Os coros infantis, tanto masculinos quanto femininos: compreendem sopranos e contraltos. Para evitar os transtornos vocais, o diretor do coro deve realizar uma boa classificação das vozes, sendo às vezes necessária a comparação da opinião do foniatra, professor de canto e fonoaudiólogo. O melhor período para cantar um vasto repertório é dos 9 aos 13 anos. O ensino do canto à criança deve ser mais artístico e higiênico do que científico e técnico. É útil aproveitar as grandes faculdades imitativas e assimilativas que possuem. Em geral, as crianças cantam gritando, com esforço, timbre aberto e voz branca. 0 termo voz branca, porém, é mal utilizado quando empregado para descrever a voz de uma criança cantora treinada. Nos melhores coros infantis do mundo, observa-se uma escola própria de cada instituição e um sistema de internato em que as crianças permanecem por 4 ou 5 anos, tendo aulas de educação musical, técnica vocal e repertório.
Para o canto infantil, considera-se a duração fonorrespiratória curta quando uma nota dada não passa de 15 segundos. Além da idade, o tempo de treinamento da criança no coro também influi sobre esta medida. No coro de Montserrat observa-se: entre 9 e 10 anos, de 10 a 15 s; entre 11 e 12 anos, de 20 a 25 s; entre 13 e 14 anos, de 25 a 30 s.
A conduta fonatória deve ser ensinada levando-se em consideração a acomodação harmônica do relaxamento, respiração costodiafragmática, coordenação, ressonância e emissão. Para atingir rima boa qualidade de voz, é necessário utilizar uma boa técnica vocal, evitar o esforço desmedido e cuidar da higiene vocal.
A voz é considerada impostada quando pode produzir sons cheios, firmes, redondos, vibrantes, homogêneos, sem vacilações ou tremores em toda a sua extensão, que aumentará progressivamente com a idade.

Para saber mais e se aprofundar...LEIA:

JACKSON E, JACKSON-MENALDI CA. Técnicas vocales existentes en el mundo. La voz normal. Buenos Aires, Panamericana, 1993. P. 191-207

quarta-feira, 21 de julho de 2010

E por falar em processo de construção...

Aqui o diretor Ivan Izzo explica um pouco de como nasceu o processo Coração Bazar com o Grupo Lasnenas de Teatro e temos também o "aval" de quem sabe muito bem o que está falando... CONFIRAM NO VÍDEO.

Depoimento realizado na apresentação do espetáculo Coração Bazar em 19/12/09 pelo Projeto VIVO Encena - Teatro VIVO São Paulo


Beijos

Rita Teles

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Stanislavski e a Construção da Personagem

O conceito de criação da personagem reconhece que todos os seres humanos são diferentes. Como nunca encontraremos duas pessoas iguais na vida, também nunca encontraremos duas personagens idênticas em peças teatrais. Aquilo que faz suas diferenças faz delas personagens. O público que vai ao teatro tem o direito de ver Treplev (personagem de A Gaivota, de Tchekov) hoje e Hamlet na semana seguinte, e não o mesmo ator com sua própria personalidade e seus próprios maneirismos. Embora possam ser desempenhados pelo mesmo ator, são dois homens distintos com suas personalidades e características próprias. Mas não se pode vestir uma personagem do mesmo jeito que veste um figurino. A criação da personagem é um processo.

O ator precisa de uma perspectiva sobre o papel: o que ele pensa sobre a personagem e o que ele quer dizer através dela. Mas, para fazer isso, é importante lembrar que a personagem também tem sua própria perspectiva, a ótica através da qual ela percebe seu mundo. Ao longo da peça, a personagem passa pelas duas horas mais importantes de sua vida, enfrenta problemas que nunca enfrentou antes e faz coisas que nunca fez. E, portanto, muitas vezes não tem uma maneira habitual de agir. Por isso, a personagem é capaz de se surpreender e até, às vezes, ser contraditória. Nenhum personagem é completo, mesmo os heróis gregos tinham suas falhas trágicas. Modernamente, a dramaturgia nos oferece pais exemplares que se apaixonam perdidamente por travestis.
O primeiro contato do ator com a personagem se dá por intermédio do seu problema humano. Esta relação entre a situação objetiva da personagem e a íntima necessidade pessoal de transformá-la, cria uma síntese dos lados objetivo e subjetivo da personagem. A ação torna visível a vida interna e cria uma base para a experiência vivenciada. Esta síntese leva a uma visão artística do papel onde a expressão externa não está separada do conteúdo da experiência humana. Os objetivos a serem atingidos orientam a personagem ao longo da peça. A cada instante a personagem reavalia sua situação perante seu objetivo e disso surge a necessidade de agir.

É comum identificar o lado psicológico (a vida interna) da personagem com as suas emoções. Na verdade, Stanislavski, elaborador do sistema para o ator, se preocupou durante toda sua vida artística com o problema da criação da experiência verdadeira. Ele entendeu que as emoções não estão sujeitas a nossa vontade, e sim ao resultado de um processo de vida. Elas não podem ser atingidas diretamente. A ação é o indicador mais preciso da personagem. É inútil elaborar como a personagem vai agir sem saber qual ação que vai fazer.

Por ação entendemos um ato que envolve o ser humano inteiro na tentativa de atingir um objetivo específico. Na ação orgânica o desejo, pensamento, vontade, sentimento e corpo estão unidos. De fato, o homem inteiro participa da ação, por isso sua importância na criação da personagem. Agimos a partir de nossas percepções. Elas e nossas ações expressam quem somos nós.
Percebemos, avaliamos e depois agimos. O interior, que é invisível, se torna externo, visível e artístico através da ação. Entendido que as emoções surgem durante o processo de ação. “A lógica dos pensamentos gera a lógica das ações, que gera a lógica das emoções”.

A personagem se diferencia do ator de duas formas distintas, ambas relacionadas com a ação. Como indivíduos, somos capazes de empreender uma grande variedade de ações. A personagem ameaça e o ator também pode ameaçar. A personagem consola, mas o personagem também o faz. Mas o diferencia o ator da personagem não são as ações simples, individualmente (ameaçar, consolar, desejar), mas a “ação complexa” – o conjunto dessas ações simples que está dirigida a um objetivo, único, provido de coerência e lógica próprias.
Trabalhando e experimentando esta coerência ou lógica de ações que não pertencem ao ator e sim à personagem, o ator começa a entrar no fluxo de vida da personagem.

Ao longo de uma peça, a personagem é capaz de realizar um número significante de ações que constituem uma linha contínua que atravessa todo o texto. A linha contínua de ações é a linha consecutiva de ações de uma personagem que o ator desenvolve a fim de reforçar a lógica e seqüência de seu comportamento no papel. Serve-lhe da mesma forma que uma partitura serve ao pianista, dando ao seu desempenho unidade, ordem e perspectiva.
Um conceito básico de criação da personagem: ela existe a partir de sua lógica de ações. Criar a linha contínua de ações de uma personagem com sua lógica de ações envolve o ator com sua mente, alma e corpo juntos, numa pesquisa psicofísica.

A personagem se diferencia do ator no que diz respeito à lógica de ações e no que diz respeito à maneira de agir. Além da linha contínua das ações com sua coerência própria, o ator também se preocupa com as características da personagem.
A composição de hábitos de comportamento é chamada de caracterização. Muitos atores encaram seu trabalho como o descobrimento do gestual particular da personagem.
O problema da caracterização tem duas vertentes. O ser humano existe como indivíduo e como integrante de um grupo social. Dar individualidade e agregar características que situem a personagem a seus respectivos grupos sociais.
As classes sociais, as profissões, as faixas etárias, demonstram comportamento compartilhado que é imediatamente reconhecível. O comportamento humano também muda de país para país e de época para época.

Os atores de A gaivota, que retrata várias camadas da sociedade russa do final do século XIX precisam ser sensíveis ao fato de que suas personagens se apropriam dos padrões de comportamento de um outro país e de uma outra época. Também, dentro dessa sociedade, as pessoas estão separadas pelas classes e funções sociais – uma ampla pesquisa é necessária para qualquer peça que fuja de nossa época atual. Mas precisamos ficar atentos a observações superficiais e tentação de criar verdades absolutas. É verdade que militares, em geral, compartilham características próprias que os diferem dos surfistas, por exemplo, mas nem todos os militares são, e pode mesmo haver um militar/surfista. O que quero dizer é que há muitas personagens pertencentes a quadros muito característicos, mas que fogem às características mais marcantes de seus quadros.

Dentro dos grupos, cada ser humano é um indivíduo com suas características próprias. E o que as determina como características individuais, ou, melhor dizendo, como modos de comportamento são peculiaridades interessantes, como um andar diferente, por exemplo, ou um andar desleixado, ou um falar monótono e agudo, uma risada histriônica, etc. Enfim, características que se somem em um indivíduo e que componham sua personalidade. É evidente que essas manifestações externas devem estar associadas as realidades interna e mais profundas da personagem.

Na descoberta de uma lógica de ação única e indispensável, o ator percebe que a personagem demonstra certas tendências de ação. Por exemplo: Treplev explode em quase todas as suas cenas, mas ao invés de reconhecermos nele unicamente um personagem explosivo, devemos estar atentos para os motivos que o levam a explodir. É preciso lembrar que o tempo da peça é o tempo em que a vida da personagem está no limite. Questionando os fatos que o levam a perder a cabeça, temos um primeiro passo para estabelecer uma fisicalidade da personagem. Temos a base de sua composição física, temos o como fazer. Ao adaptar seu corpo a situação em que se encontra a personagem, o ator começa a compor seu papel.

Finalmente, o que vai distinguir a personagem do ator é a forma como a ação da personagem é executada. Hamlet vai inevitavelmente ameaçar de forma diferente da que faria o ator, pois, além do fato de que cada ser humano ser único e a personagem ser um ser humano, para caracterizar o ator precisa recompor seu próprio comportamento. Para fazer isso, sem cair na imitação fácil, é necessário transformar os componentes da ação interna e externa que são suscetíveis ao nosso controle: ação física, estado físico, tempo e ritmo, monólogo interior, pensamentos. Este processo se estende pelo período de ensaios e temporada, e até depois.É comum um ator inexperiente e mesmo experientes rejeitarem novos modos de agir – é mais cômodo apostar na naturalidade, no espontâneo e mesmo nos clichês para compor as personagens porque compor uma personagem meticulosamente, passo a passo, rejeitando diversas tentativas até encontrar um caminho satisfatório é tarefa árdua. A descoberta de uma ação psicofísica única e indispensável da personagem, que o sintetize, significa também em certa medida, a “morte” do ator e sua “reencarnação” dentro da personagem, e isso gera medo e nem sempre é desejado pelos próprios atores.

sábado, 17 de julho de 2010

Representar ou Interpretar?

O ator é fingidor,
finge tão completamente
que convence o espectador
que sente aquilo que não sente.
(Paráfrase boba do poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa)

Representar ou interpretar?, me perguntaram.

Representar é…hum. Pense na tarefa de um representante. Ele comparece a um evento substituindo alguém que não foi. Ele representa aquela pessoa. Representar é isso: estar no lugar de outra pessoa.
Interpretar é diferente. Quem interpreta observa, analisa, reflete. Interpretação significa, de certo modo, formar e emitir opinião.
No palco também. Representar é estar lá, apenas. Substituindo uma pessoa que não pode falar por si (por ser obra de ficção, como Romeu; por já ter falecido, como Cazuza; por não ter interesse em ser ator, como Patch Adams). Quem representa, está como substituto de alguém.

Interpretar é criar. Extrair significados de cada frase do texto, de cada marcação. O ator que interpreta sabe as motivações da personagem, sabe o passado dela e o contexto social onde ela viveu. Sabe a razão de cada gesto das mãos, de cada passo. Sabe o significado por trás de um passo para o fundo do palco, ou de três passos na direção do outro personagem. Interpretar é criar os tiques, o andar, o ritmo da respiração.
Representar é trabalho mecânico; interpretar é trabalho criativo.
Interpretar é o trabalho do ator.

Essa colocação é pertinente quando os atores se dizem "empacados", "cristalizados", ou quando não conseguem dar substância ao texto e consequentemente ao personagem.
Teatro é o novo, de novo, de novo...sempre!

LASNENAS : pensem nisso! Cada encontro com o público é único, portanto se um espetáculo durar 10 anos em cartaz, cada noite tem que ser uma novidade, uma celebração da alegria...
Apenas para refletir!
Com Carinho,
IVAN IZZO
diretor

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pelos Olhos da personagem

Por incrível que pareça, esta será minha primeira postagem, assim quero compartilhar com todos o processo que estou passando para resignificar meus personagens do nosso amado "Coração Bazar".
Semana passada estava repensando como uma personagem minha, no qual ainda não consegui estabelecer limites físicos muito claros, mas consegui perceber como ela enxerga o amor, como ela sente e degusta esta sensação que vive.

Assim, escrevi um texto que ela retrata suas aspirações e aflições com algumas citações do texto da peça...

“Um rapaz diferentemente e penosamente se transforma em si mesmo, de pose quase teatral: de pé e com seu braço erguido, apoiado na moldura da porta aberta e contemplando o silencio deles. Sua expressão melancólica transpõe-se a uma pequena fumaça harmoniosamente, junto à sua sobrancelha arqueada, adjacente ao olhar distante no interminável corredor. Essa fotografia, quase um deja-vu, é observada dezenas de vezes... Talvez, a mesma quantidade de vezes que ela se pegou culpando ela mesma por não se controlar, logo dissolvendo suas torturas pelo convite de se deitarem para sonharem juntos.

Deitados a cama, o moço a questiona, como um menino perdido, os motivos pelo qual ele sente tudo ou não sente nada. Chega a ser insuportável a ele. Mas ela não sabe a resposta, ela não sabe nada, nunca sabe. Não entende as dúvidas, já que para ela o que ela sente é desproporcional a tudo, é forte e decisivo: Ela ama. O tempo se perde, e através da tranqüilidade da moça, ele dorme. Ela cuida dele, espera ele dormir para ela também se entregar aos devaneios que traz a madrugada.

Todo dia ele corre vários riscos: (...) de pensar de mais, acoimar se, de ferir o outro, de entender mal esses, de não suportar um não, da imperfeição, de chorar, de enxergar um novo, de sentir de mais, de não pensar, de parecer errado, de delirar (...).

E por isso, ela presta tanta atenção nele, para não errar. “Parece que os amantes confiam e desconfiam, com a mesma cegueira”.

Ah, esses amantes!

São precisamente a maravilha que são: “Cada um tomou um ser bruto e o moldou à sua imagem e semelhança. Poliu o seu gosto traços, humores...”. Desbastamos as imperfeições, sendo digeridas as chatices e tornando flashes-de-tédio-confortavelmente-inconfortáveis em amor intrínseco em nós. (ou vice e versa?!).

Ela já não busca respostas para vida junto a ele, as únicas coisas que sabe são as memórias irresistivelmente persuadidas em seu coração. Não busca o desejo de transformar seu sonho de fada em realidade. Porque esses dois ai, sempre viveram fora da realidade: não era idealização da garotinha ou do guri, mas a exceção dos dois. Sendo cabíveis todos os profundos e indiscretos sofrimentos. Afinal nem todos os dias são ensolarados. A chuva quando falta, pede se.

“O amor é privilégio de maduros”. Por isso...

“VAMOS (atrapalhar os outros, amor, e depois, sair correndo?....sofrer calmamente e sem precipitação?...nos persuadir intensamente dos acontecimentos do agora?...fingir que hoje é domingo?) BRINCAR, AMOR?”. ”

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fernando Pessoa - Poeta presente em Coração Bazar


Caros leitores, aos poucos estaremos postando um resumo de todos os autores que compoem a coletânea de poesia e prosa de Coração Bazar. Como estaremos nos apresentando em setembro no TEATRO VIVO, todos os sábados as 16hs, achamos importante colocarmos a disposição informações sobre os autores.

Assim enriquecemos o debate que temos com a platéia após o espetáculo!

Ivan Izzo e Eduardo Bodstein
Diretores

Agora é a vez de Fernando Pessoa!

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a ler e escrever na língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Durante uma vida discreta, trabalhou em Jornalismo, em Publicidade, no Comércio, ao mesmo tempo que compunha a sua obra literária. Como poeta, desdobrou-se em diversas personagens conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos, na cidade onde nasceu. Sua última frase foi escrita em Inglês: "I know not what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará").

Os trechos dos textos de Fernando Pessoa que estão no espetáculo Coração Bazar são:


PASSAGEM DAS HORAS – Fernando Pessoa

Trago dentro do meu coração,
como num cofre que se não pode fechar, de cheio,
todos os lugares onde estive,
todos os portos a que cheguei,
todas as paisagens que vi,
todas as pessoas que amei...
E tudo isso, que é tanto,
é pouco para o que quero.
Não sei se sinto demais ou de menos, não sei...
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque de tão interessante que é,
a todos os momentos, a Vida,
chega a doer, a enjoar,
a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar gritos, de dar pulos,
de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas, de todas as sacadas,
e ir ser, selvagem, para a morte!
Vi todas as coisas, maravilhei-me de tudo,
E tudo... ou sobrou ou foi pouco.
E eu sofri.
Vivi todas as emoções,
todos os pensamentos
todos os gestos.
Amei e odeie como toda gente.
Realizei em mim toda humanidade!

Multipliquei-me para me sentir!
Para me sentir precisei sentir tudo,
transbordei, não tenho feito senão extravasar-me!
Ai sentir!
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
ser a mesma coisa de todos os modos possíveis!
Meu coração mercado,
Meu coração rende -vous de toda humanidade,
Meu coração clube, sala, platéia, capacho,
Ponte, cancela, viagem, leilão, feira, arraial,
Eeeeehhh lá Iáaaaa! Meu coração bazar!
Vamos, vamos!
Quem mais consigo me tornar?!
Todos os amantes se beijaram na minha alma.
Todos os vadios dormiram, por um momento,
em cima de mim.
Todos os desprezados
encostaram-se, por um momento, no meu ombro.
E no meu ombro, todo esforço quotidiano
De um povo pacífico... e limpo!
E toda a minha raiva de não conter isso tudo,
de não deter tudo isso! – as coisas belas da vida-
Falta sempre alguma coisa!
Um copo, uma brisa, uma frase...
E a vida dói quanto mais se goza
e quanto mais se inventa.
E poder rir?
Rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente roto por me roçar nas coisas,
Ferido na boca por morder as coisas,
com as unhas em sangue por me agarrar às coisas!...
E depois... me dêem a cela que quiserem
que eu me lembrarei da vida!
Eu, que fui educado pela imaginação,
Que viajei pela mão dela, sempre!
“Dizei, senhora viúva, com quem quereis se casar?
Se é com o filho do Conde, se é com seu General,
General, General...”

Vamos, vamos! Quem mais eu consigo me tornar?
Eu, que queria comer, beber,
Esfolar e arranhar o mundo!
Eu, que só me contentaria com calcar do universo aos pés
e calcar, calcar, calcar até não mais sentir...
Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe um paladar!...
Seria mais feliz – por um momento- ...

Mas eu nem sempre quero ser feliz!
É preciso ser, de vez em quando, infeliz
para se poder ser natural.
Porque nem tudo é dias de sol.
E a chuva, quando falta, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade, naturalmente,
como quem não estranha que haja montanhas e planícies.
E que haja rochedos e erva.

LIVRO DO DESASSOSSEGO


Eu nunca fiz senão sonhar.
A minha mania de criar um mundo falso
acompanha-me ainda
e só na minha morte me abandonará.
Considero a vida uma estalagem
onde tenho que me demorar
até que chegue a diligência do abismo.
Não sei onde ela me levará porque não sei nada.
Poderia considerar esta estalagem, uma prisão,
porque estou compelido a aguardar nela.
Poderia considerá-la um lugar de sociáveis
Porque aqui, me encontro com outros.
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos
nas cores e nos sons da paisagem.
E canto...vagos cantos
que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência.
Então eu gozo a brisa do Agora,
E a alma que me deram para gozá-la.
Não interrogo mais...nem procuro.
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade e na infelicidade.
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda.
E quando se vai morrer,
Lembrar-se que o dia morre, e que o

Poente é belo.
E é bela a noite que fica.
Assim é.
E assim seja.

A Poesia no Teatro - Cleise Mendes



Bocas, buchichos, bilhetes,
o beijo, o banzo, o batuque,
bispos, beatos, blasfêmias,
as conversas cavernosas,
cavando caos e castigo,
cartas cárceres carrascos,
cruzes, quilombos, capoeira,
denúncias, depoimentos,
devassas e desventuras,
a danação do degredo.


E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.


Filetes deferimentos,
ferros, feitores, fidalgos,
(afã de fazer feitiço!)
garras, garrotes, gadanhos,
galhofas e galicismos,
o gosto das gargalhadas,
o gozo, o guizo, a gandaia,
a justiça justaposta,
gerando jeito, jeitinho
e gente jeremiando.


E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.


Lágrimas lavam as leis
e as legiões de lacaios,
os livros em labaredas,
a luz, o lume, a legenda,
iluminismos letais...
masmorras, mortes, miséria,
meirinhos, maçons, muzenza,
o Nordeste, a novembrada,
novidades e novenas,
Napoleão e novelas.


E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.


Os póstumos patriotas,
padres, peões, parasitas,
os poderes paralelos,
réus, rebeldes renitentes,
raças, revoltas, revides,
o real e a realeza,
os sambas e as assembléias,
selos, sigilos, segredos,
a sedição e seus sonhos,
o sangue e o suor descendo.


E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.


Traidores e titulares,
o trono, a taxa, o tributo,
o tronco, a tortura, a tropa,
velas, vasos e vitrais,
os vassalos e os valentes,
(a vida à vazar das veias)
o xodó e o xingamento,
zona, zunzum, zombaria,
o zumbir da zurzidela,
zoeiras, zangas e zelos.


E a liberdade tecendo
o fio de sua renda:
navegar é preciso
que se aprenda.

FRIDA


Este post é uma homenagem a grande pintora e desenhista mexicana Frida Kahlo.

Dia 06 de julho foi seu aniversário e dia 13 de julho (amanhã) será seu aniversário de morte.

Para recordar um pouco sua história..aqui vai um breve texto acompanhado de uma de suas obras mais famosas:


Frida Nasceu em 1907 no México, mas gostava de declarar-se filha da revolução ao dizer quehavia nascido em 1910. Sua vida sempre foi marcada por grandes tragédias; aos seis anoscontraiu poliomelite, o que à deixou coxa. Já havia superado essa deficiência quando o ônibus emque passeava chocou-se contra um bonde. Ela sofreu multiplas fraturas e uma barra de ferroatravessou-a entrando pela bacia e saindo pela vagina. Por causa deste último fez várias cirurgiase ficou muito tempo presa em uma cama.

Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima de suacama. Frida sempre pintou a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porquesou o assunto que conheço melhor". Suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmenteseu amor pelo marido Diego Rivera.

A sua vida com o marido sempre foi bastante tumultuada. Diego tinha muitas amantes e Fridanão ficava atrás, compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos. A maior dorde Frida foi a impossibilidade de ter filhos (embora tenha engravidado mais de uma vez, asseqüelas do acidente a impossibilitaram de levar uma gestação até o final), o que ficou claro emmuitos dos seus quadros.

Os seus quadros refletiam o momento pelo qual passava e, embora fossem bastante "fortes", nãoeram surrealistas: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pinteiminha própria realidade". Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de emboliapulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: "Espero alegremente a saída - e esperonunca mais voltar - Frida". Talvez Frida não suportasse mais.

Quatro anos após a sua morte, sua casa familiar conhecida como "Casa Azul" transforma-se no Museu Frida Kahlo. Frida Kahlo, reconhecida tanto por sua obra quanto por sua vida pessoal, ganha retrospectiva de suas obras, com objetos e documentos inéditos, além de fotografias, desenhos, vestidos e livros

No ano de 2002, sob a direção de Julie Taymor, foi lançado o filme "Frida", que narra a história da pintora, interpretada pela atriz Salma Hayek. O longa metragem conta ainda com a presença de Alfred Molina, interpretando Diego Rivera.



*Espero que tenham gostado

Muitos Beijos
Patty Ghattas

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um pouco sobre os autores escolhidos que compoem o texto de Coração Bazar


Caros leitores, aos poucos estaremos postando um resumo de todos os autores que compoem a coletânea de poesia e prosa de Coração Bazar. Como estaremos nos apresentando em setembro no TEATRO VIVO, todos os sábados as 16hs, achamos importante colocarmos a disposição informações sobre os autores.

Assim enriquecemos o debate que temos com a platéia após o espetáculo!

Ivan Izzo e Eduardo Bodstein
Diretores


Começaremos com Adélia Prado, que no espetáculo aparece com o poema:

CASAMENTO

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Este texto é interpretado pela jovem atriz Patrícia Ghattas.

Agora com vocês um pouco sobre:
Adélia Prado


Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

"Uma das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: "Olhai os lírios do campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...".

A professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei a sentença na composição que foi muito aplaudida, para minha felicidade suplementar. Repetia em casa composições, poesias, era escolhida para recitá-las nos auditórios, coisa que durou até me formar professora primária. Tinha bons ouvintes em casa. Aplaudiam a filha que tinha "muito jeito pra essas coisas". Na adolescência fiz muitos sonetos à Augusto dos Anjos, dando um tom missionário, moralista, com plena aceitação do furor católico que me rodeava. A palavra era poderosa, podia fazer com ela o que eu quisesse."

Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.

No ano de 1950 falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a autora escreva seus primeiros versos. Nessa época conclui o curso ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração, naquela cidade.

No ano seguinte inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta, que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho em 1955.

Em 1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas, funcionário do Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos: Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).

Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis.

Em 1972 morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa ocasião envia carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade.

"Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa.Continuava a escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É isto, é a minha fala."

Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam "fenomenais". O poeta envia os originais ao editor daquele que viria a ser Bagagem. No dia 09 de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escritora.

"Bagagem, meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando."

O livro é lançado no Rio, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Raquel Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitscheck, Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho, entre outros.

O ano de 1978 marca o lançamento de O coração disparado que é agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.

Estréia em prosa no ano seguinte, com Soltem os cachorros. Com o sucesso de sua carreira de escritora vê-se obrigada a abandonar o magistério, após 24 anos de trabalho. Nesse período ensinou no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, Fundação Geraldo Corrêa — Hospital São João de Deus, Escola Estadual são Vicente e Escola Estadual Matias Cyprien, lecionando Educação Religiosa, Moral e Cívica, Filosofia da Educação, Relações Humanas e Introdução à Filosofia. Sua peça, O Clarão,um auto de natal escrito em parceria com Lázaro Barreto, é encenada em Divinópolis.

"O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta."

Em 1980, dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No ano seguinte, ainda sob sua direção, o grupo encenaria A Invasão, de Dias Gomes. Publica Cacos para um vitral. Lucy Ann Carter apresenta, no Departament of Comparative Literature, da Princeton University, o primeiro de uma série de estudos universitários sobre a obra de Adélia Prado.

Em 1981 lança Terra de Santa Cruz.

De 1983 a 1988 exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, a convite do prefeito Aristides Salgado dos Santos.

Os componentes da banda é publicado em 1984.

Participa, em 1985, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba, do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América.

Fernanda Montenegro estréia, no Teatro Delfim - Rio de Janeiro, em 1987, o espetáculo Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de livros da autora. A montagem, sob a direção de Naum Alves de Souza, fez grande sucesso, tendo sido apresentada em diversos estados brasileiros e, também, nos EUA, Itália e Portugal.

Apresenta-se, em 1988, em Nova York, na Semana Brasileira de Poesia, evento promovido pelo Comitê Internacional pela Poesia. É publicado A faca no peito.

Participa, em Berlim, Alemanha, do Línea Colorada, um encontro entre escritores latino-americanos e alemães.

Em 1991 é publicada sua Poesia Reunida.

Volta, em 1993, à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, integrando a equipe de orientação pedagógica na gestão da secretária Teresinha Costa Rabelo.

Em 1994, após anos de silêncio poético, sem nenhuma palavra, nenhum verso, ressurge Adélia Prado com o livro O homem da mão seca. Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas, depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê "a aridez como uma experiência necessária" e que "essa temporada no deserto" lhe fez bem. Nesse período, segundo afirmou, foi levada a procurar ajuda de um psiquiatra.

"O que se passou? Uma desolação, você quer, mas não pode. Contudo, a poesia é maior que a poeta, e quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno é maior que o primeiro, o da aridez."

Deus é personagem principal em sua obra. Ele está em tudo. Não apenas Ele, mas a fé católica, a reza, a lida cristã.

"Tenho confissão de fé católica. Minha experiência de fé carrega e inclui esta marca. Qual a importância da religião? Dá sentido à minha vida, costura minha experiência, me dá horizonte. Acredito que personagens são álter egos, está neles a digital do autor. Mas, enquanto literatura, devem ser todos melhores que o criador para que o livro se justifique a ponto de ser lido pelo seu autor como um livro de outro. Autobiografias das boas são excelentes ficções."

Estréia, em 1996, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte, a peça Duas horas da tarde no Brasil, texto adaptado da obra da autora por Kalluh Araújo e pela filha de Adélia, Ana Beatriz Prado.

São lançados Manuscritos de Felipa e Oráculos de maio. Participa, em maio, da série "O escritor por ele mesmo", no ISM-São Paulo. Em Belo Horizonte é apresentado, sob a direção de Rui Moreira, O sempre amor, espetáculo de dança de Teresa Ricco baseado em poemas da escritora.

Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.

"Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."

Em 2000, estréia o monólogo Dona da casa, em São Paulo, adaptação de José Rubens Siqueira para Manuscritos de Felipa. A direção é de Georgette Fadel e Élida Marques interpreta Felipa.

Em 2001, apresenta no Sesi Rio de Janeiro e em outras cidades, sarau onde declama poesias de seu livro Oráculos de Maio acompanhada por um quarteto de cordas.


OBRAS:

Individuais

POESIA

- Bagagem, Imago - 1976

- O coração disparado, Nova Fronteira - 1978

- Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira - 1981

- O pelicano, Rio de Janeiro - 1987

- A faca no peito, Rocco - 1988

- Oráculos de maio, Siciliano - 1999

PROSA

- Solte os cachorros, Nova Fronteira - 1979

- Cacos para um vitral, Nova Fronteira - 1980

- Os componentes da banda, Nova Fronteira - 1984

- O homem da mão seca, Siciliano - 1994

- Manuscritos de Felipa, Siciliano - 1999

- Filandras, Record - 2001

ANTOLOGIA

Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira - 1978

Palavra de Mulher, Fontana - 1979

Contos Mineiros, Ática - 1984

Poesia Reunida, Siciliano - 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O pelicano e A faca no peito).

Antologia da poesia brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim - 1994.

Prosa Reunida, Siciliano - 1999

BALÉ

- A Imagem Refletida - Balé do Teatro Castro Alves - Salvador - Bahia - Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.

Vem de antes do sol
A luz que em tua pupila me desenha.
Aceito amar-me assim
Refletida no olhar com que me vês.

Ó ventura beijar-te,
espelho que premido não estilhaça
e mais brilha porque chora
e choro de amor radia.

(Divinópolis, 1998).

Em parceria

A lapinha de Jesus (com Lázaro Barreto) - Vozes - 1969

Caminhos de solidariedade (com Lya Luft, Marcos Mendonça, et al.) - Gente- 2001.

Traduções

Para o inglês

- Adélia Prado: thirteen poems. Tradução de Ellen Watson. Suplemento do The American Poetry Review, jan/fev 1984.

- The headlong heart (Poesias de Terra de Santa Cruz, O coração disparado e Bagagem). Tradução de Ellen Watson, New York, 1988, Livingston University Press.

- The alphabet in the park (O alfabeto no parque). Tradução de Ellen Watson, Middletown, Wesleyan University Press, 1990.

Para o espanhol:

- El corazón disparado (O coração disparado). Tradução de Cláudia Schwartez e Fernando Roy, Buenos Aires, Leviantan, 1994.

- Bagagem. Tradução de José Francisco Navarro Huamán. México, Universidade Ibero-Americana, a sair.

Participação em antologias

- Assis Brasil (org.). A poesia mineira no século XX. Imago, 1998.

- Hortas, Maria de Lurdes (org.). Palavra de mulher, Fontoura, 1989.

- "Sem enfeite nenhum". In Prado Adélia et alii. Contos mineiros. Ática, 1984.


O trabalho acima foi baseado em dados obtidos na Internet (Jornal da Poesia, depoimento à Biblioteca Nacional, "As conversas com Deus" -- Luciana Hidalgo - O Globo), BTCA - A.C.Cardoso, Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles, entre outros, e em livros da autora.

Eduardo Bodstein e Ivan Izzo, diretores de Coração Bazar, são os responsáveis pelas ações educativas do Programa VIVO ENCENA.

Os diretores Eduardo Bodstein e Ivan Izzo,são os responsáveis pela produção, coordenação e organização das oficinas artístico-pedagógicas do Programa VIVO ENCENA. A última oficina realizada em 08/06/2010, foi em cima do espetáculo Olhe para trás com Raiva, que tem a direção de Ulysses Cruz. Além dessas ações os dois diretores assinam a Mostra VIVO ENCENA DE TEATRO JOVEM, que tem lotado o TEATRO VIVO aos sábados as 16hs com espetáculos feito por jovens e para jovens,com o apoio do Projeto Conexões, Brtish Council, Teatro Escola Célia Helena, sempre com o foco na busca pela qualidade, pesquisa de linguagem, estética, interpretação e acima de tudo comunicando e mostrando ao público que Teatro não é perda de tempo e sim GANHA TEMPO!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Atriz de Coração Bazar participa da Oficina Artístico-Pedagógica do Programa VIVO ENCENA

A Atriz Patrícia Ghattas, integrante do Grupo LasNenas de Teatro e atriz do espetáculo CORAÇÃO BAZAR, participou no dia 08/06/2010 da Oficina Artístico-Pedagógica do Programa VIVO ENCENA, sobre o espetáculo "Olhe para trás com Raiva", de John Osborne, com direção de Ulisses Cruz em cartaz no Teatro VIVO.

Qual a missão do VIVO ENCENA?

Vivo EnCena é o Programa Cultural da Vivo que reúne projetos e profissionais de diferentes perfis na área das artes cênicas, como montagens teatrais profissionais e amadoras, oficinas de formação técnica e artística, estímulo à produção de nova dramaturgia, formação de público, acessibilidade no teatro etc. A intenção do Programa ao compor essa rede de pessoas e iniciativas diversas (mas complementares) é criar um ambiente fértil para a experimentação e compartilhamento de conhecimento, estimulando o desenvolvimento profissional e a inovação no teatro brasileiro. A interface da dramaturgia com as novas tecnologias digitais, especialmente os equipamentos portáteis (como os celulares) e a Internet, também faz parte do campo de interesse do Vivo EnCena. Como acontece com outras iniciativas da Vivo, pesquisar e desenvolver usos culturais e sociais para os serviços de comunicação que a empresa oferece é uma das formas de concretizar a visão de que, conectadas, as pessoas vivem melhor e podem mais, inclusive com mais acesso à cultura. A construção e articulação de redes culturais nacionais, em diferentes segmentos artísticos, é o foco da Política Cultura da Vivo, que tem no Vivo EnCena uma de suas expressões.

Como foi a oficina?

A programação desta oficina foi elaborada por Eduardo Bodstein e Ivan Izzo,da Arte&Equilíbrio Produções e contou com a participação dos profissionais: Ulisses Cruz(diretor), Marcos Daud (adaptador do texto)e Ravel Cabral(assistente de Direção). O evento foi dividido em três etapas: primeiro um bate-papo com o diretor Ulisses Cruz, seguido de uma palestra com o Marcos Daud, que situou os participantes sobre o histórico da obra e na terceira fase, Ravel Cabral fez uma oficina prática com os jovens atores(exercícios de concentração, aquecimento e prontidão). Pausa para o lanche e em seguida os participantes puderam assistir a um ensaio aberto do espetáculo, seguido de um debate com o elenco, como mostra o vídeo! Confira!

VIAJAR! PERDER PAÍSES!



Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa