sexta-feira, 24 de junho de 2011

Faz muito tempo que não publico nada que eu escrevo... olhando minhas poesias hoje, resolvi colocar uma delas aqui... compartilhar com vocês... uma que escrevi o ano passado

Bolha de sabão


Este estreito precipício

Oculta minha lucidez

Torna turva a visão

Destrói toda rigidez

A voracidade dos fatos

Deixa na penumbra

Meus sonhos reais

Construídos com você

As vidraças desalinhadas

Constrangem meus desejos

A desistência não é covardia

Faz parte da cicatrização

A revelação atordoante

Direciona meu rumo

Cala minha alma

Destapa meus ouvidos

Viro bolha de sabão

Flutuando pelo ar

Em busca do vasto

Interior da solidão

Heloísa Barrozo de Assiz, São Paulo - 25/11/2010

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SOBRE O TEATRO COTIDIANO




Vocês, artistas, que fazem teatro
Em grandes casas, sob sóis artificiais
Diante da multidão calada, procurem de vez em quando
O teatro que é encenado na rua.
Cotidiano, vário e anônimo, mas
Tão vívido, terreno, nutrido da convivência
Dos homens, o teatro que se passa na rua.
(...) Como é útil
Esse teatro, como é sério e divertido
E digno!
(...) Que vocês, grandes artistas
Imitadores magistrais, não fiquem nisso
Abaixo deles. Não se distanciem
Por mais que aperfeiçoem sua arte
Daquele teatro cotidiano
Cujo cenário é a rua.
(...)
A misteriosa transformação
Que supostamente se dá em seus teatros
Entre camarim e palco: um ator
Deixa o camarim, um rei
Pisa no palco, aquela mágica
Da qual com freqüência vi a gente dos palcos rir
Copos de cerveja na mão, não ocorre aqui.
Nosso demonstrador da esquina
Não é um sonâmbulo, a quem não se pode tocar. Não é
Um Alto sacerdote no ofício divino. A qualquer instante
Podem interrompê-lo; ele lhes responderá
Com toda calma e prosseguirá
Depois que lhes tiverem falado
Com sua apresentação.

Mas não digam vocês: o homem
Não é um artista. Erguendo tal divisória
Entre vocês e o mundo, apenas se lançam
Fora do mundo. Negassem ser ele
Um artista, poderia ele negar
Que fossem homens, e isto
Seria uma censura maior. Digam antes:
Ele é um artista, porque é um homem. Podemos
Fazer mais perfeitamente o que ele faz, e ser
Por isso festejados, mas o que fazemos
É algo universal, humano, a cada hora praticado
No burburinho das ruas, para o homem tão bom
Quanto respirar e comer.

Assim o seu teatro
Leva de volta às questões práticas. Nossas máscaras, digam
Nada são de especial, enquanto forem somente máscaras(...)
(...)
Máscara, verso e citação tornam-se comuns, mas incomuns
A máscara vista com grandeza, o verso falado bonito
E a citação apropriada.

Mas para que nos entendamos: mesmo se aperfeiçoassem
O que faz o homem da esquina, vocês fariam menos
Do que ele, se o seu teatro fizessem
Menos rico de sentido, de menor ressonância
Na vida do espectador, porque pobre de motivos e
Menos útil.
BERTOLT BRECHT
(tradução de Paulo César de Souza)

terça-feira, 21 de junho de 2011

O processo

A proposta de 2011 é mudar. Pois bem, mudar é o que faremos.

Mudanças nunca acontecem de maneira fácil, pelo menos para mim. Eu sofro muito para cortar o cabelo, para trocar as roupas do meu guarda-roupa, para mudar de grupo de amigos... Deixar para trás e conquistar o novo não é exatamente tarefa fácil para a minha pessoa. Quando o Edu e o Ivan me pediram isso, no começo dos ensaios, já comecei a surtar (porque é isso que as meninas do grupo sempre fazem!).

Assisti Shirley Valentine supercedo a semana antes do ensaio. Fiquei com aquilo ali em suspenso e martelando "o que é diferente? O que é diferente?". Diferente seria eu fazer a cena cantando porque ninguém merece ouvir a minha voz, então eu nunca canto. Mas isso não era o suficiente.

Lembrei-me de uma cena que eu amo fazer, mas que nunca me satisfiz com o resultado dela. O poema chama "Mágico Mirante". É lindo, mas eu nunca acerto. O que me falta naquela cena é emoção real, sentir a ponto de as pessoas acreditarem que eu larguei a peça, deixei de ser atriz e me sentei ali para conversar com o público. Tentei com um texto da Shirley. Peguei um trecho que eu curti, reescrevi e comecei a ler muitas e muitas vezes. Ensaiei cada pausa, foi como se eu me dirigisse em cada respiração, cada gesto.

Consegui. Saiu do jeitinho que eu queria. Incrível como mudar o processo funcionou. Acredito mais em mudanças, acredito mais no processo, no texto e em mim mesma. O que é muito bom. Afinal, o Teatro é feito, em partes, de acreditar.




ps: A Sutil Cia. de Teatro está fazendo uma mostra com três peças no Sesc Belenzinho. Amo o Guilherme Weber. Fica a dica.

ps2: Termina quinta a mostra dos filmes do Hitchcock. Eu sei que já perdemos quase tudo, mas amanhã tem "O Terceiro Tiro" e quinta tem "Cortina Rasgada", entre outros. Dá uma olhada no site do CCBB.

Até breve.
Beijos,
Isa

O TEMPO



A coisa mais misteriosa que existe: o tempo.
O tempo acaba com tudo: com as árvores, com as montanhas, com as pedras, com a água -que se evapora-, com os sentimentos, com os bichos, com os homens.
O tempo acaba com o vigor físico, com o paladar, com o olfato, com o interesse pelas coisas; com a vontade de viajar, de comprar uma roupa nova, de reencontrar um velho amigo, até com a vontade de viver. É cruel, o tempo.
Quem se salva do passar do tempo? Os que não pensam, talvez, ou talvez os que só pensem no momento, aquele que estão vivendo; mas mesmo assim podem pensar que já viveram momentos parecidos e muito melhores que nunca mais vão se repetir, por culpa do tempo.
Qual de nós não foi mais feliz do que agora? E se não éramos, achávamos que iríamos ser um dia, quando tivéssemos mais dinheiro, quando encontrássemos o verdadeiro amor, quando tivéssemos filhos, quando eles crescessem, quando, quando, quando. E agora, você espera exatamente o quê, e a culpa é de quem? Apenas do tempo.
Dele, nada escapa: é o tempo que acaba com os grandes amores, e com os grandes entusiasmos que não resistem a ele, que passa e passa. Não são as coisas que passam: é ele.
Passar é modo de dizer: quando se está muito feliz, ele voa, e quando se está esperando muito por alguma coisa, é como se ele tivesse parado.
É como se estivesse sempre contra nós, e quando acontece de se ter uma vida razoavelmente feliz, um dia se vê que ela já passou, e com que rapidez.
Mas o tempo às vezes é amigo; quando se tem uma grande dor, não há dinheiro, viagens, distrações, trabalho ou aventuras que ajudem: só o tempo.
Não chega a ser um tratamento de choque, rápido, como se gostaria; é uma coisa vaga, lenta, que não dá nem para perceber que está acontecendo, mas um dia você acorda e se dá conta de que o sol está brilhando -coisa que passou meses sem perceber que acontecia diariamente-, se olha no espelho, tem uma súbita vontade de abrir a janela e respirar fundo.
Ainda não sabe, mas está salva. E um dia, muito depois, vai saber que foi o tempo, e só ele, que a salvou.
Nunca se pensa no poder do tempo, do quanto ele comanda nossa vida; também nunca se pensa no quanto ele é precioso, mas um dia você vai lembrar que ele passou e não volta mais. Lembra quando você tinha 20, 30 anos, e se achava infeliz? Se achava, não: era mesmo.
E quando era adolescente, não era também profundamente infeliz, como é obrigação de todos os adolescentes?
Mas será que ninguém tem um tio, desses meio doidos que todo mundo tem, que pegue um desses meninos ou meninas de 13, 15 anos, sacuda pelos ombros e diga "pare de achar que tem problemas, viva sua juventude, não perca tempo sendo complicada, neurótica, reclamando que sua mãe não te entende e que seu pai não te dá a devida atenção. Danem-se seu pai e sua mãe, aproveite a vida".
Para ter uma maturidade com poucos arrependimentos, é preciso não perder tempo, e mesmo fazendo uma bobagem atrás da outra, é melhor do que não fazer nada. Os pais querem que os filhos estudem para ter uma profissão, e estão certos; mas quem vai dizer aos adolescentes para eles aproveitarem o tempo para serem felizes em todos os minutos da vida? Quem?

PS - Quando terminei de escrever esta crônica, lembrei de uma entrevista que fiz há mais de 20 anos com Pedro Nava, dez dias antes de sua morte. Ele disse que os jovens, até 30 anos, não deveriam fazer nada, nem estudar, nem trabalhar, apenas viver a vida. Ele talvez tivesse razão

DANUZA LEÃO

A DIFÍCIL TAREFA DE JULGAR


Uma das características do ser humano é que ele está o tempo inteiro emitindo julgamentos. Toda vez que conhecemos algo ou alguém, nos apressamos em criar um juízo, tentando avaliar suas qualidades, seus defeitos e, principalmente suas intenções. Para tanto, usamos a percepção, que é construída a partir de como "sentimos" as coisas e as pessoas.
O problema é que somos, sem exceção e na maioria das vezes, maus juízes...
Este post é dedicado a atriz RENATA REIS.
Renata tem surpreendido pela sua dedicação, pelo seu amor à arte, pela vontade inquebrantável de acertar, de buscar o melhor, de pesquisar... Duro ofício de uma atriz! Garimpar no desconhecido da alma, seus anseios e desejos mais profundos e colocá-los a serviço de uma personagem. ou seja, de um desconhecido.
A determinação de Renata chega a ser comovente!
Sua composição de Shirley Valentine, em um breve exercício de improvisação me surpreendeu pela riqueza de detalhes, pelo instigante trabalho de observação... BRAVA!
Renata chegou depois... bem depois, em 2010...quietinha, meio retraída, defendida, desconfiada... e criou uma aura de mistério e um abismo de afastamento entre ela e as pessoas, o grupo, o elenco...até mesmo com a direção...
Mas como o Universo é maravilhoso, nos deu uma segunda oportunidade de conhecermos a verdadeira RENATA. E tem sido, ao menos para mim, uma grata surpresa!

Renata Reis, seja muito bem-vinda ao Grupo, ao Coração Bazar... E seja você, sempre!!! Pois em você, eu vejo o outro, e outro, e outro...


Com carinho,
Ivan Izzo
Diretor

domingo, 12 de junho de 2011

Agora somos seis!

Somos as escolhas que fazemos e as que omitimos, a audácia que tivemos e os fantasmas aos quais sacrificamos a possível alegria e até pessoas a quem amamos; a vida que abraçamos e a que desperdiçamos. Em suma, fazemos a escritura da nossa complicada história.
Vai chegar o dia em que, olhando para trás, vamos ler isso que escrevemos com sangue e realidade. Não seremos perdoados pelo desperdício.
Agora somos seis, no palco. E continuamos com dois na direção. Totalizando oito.

O número oito segundo a astrologia, significa: Poder - Valores - Justiça. É o número que representa a continuidade eterna, da conquista do que é seu de direito, com planos fundamentados pelo senso ético e de justiça.

Continuamos nossa jornada, com coerência, bom senso e determinação em realizar um bom trabalho, SEMPRE!


Este vídeo é em homenagem a nova fase do Grupo Las Nenas de Teatro.
ENJOY

IVAN IZZO
DIRETOR