segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fernando Pessoa - Poeta presente em Coração Bazar


Caros leitores, aos poucos estaremos postando um resumo de todos os autores que compoem a coletânea de poesia e prosa de Coração Bazar. Como estaremos nos apresentando em setembro no TEATRO VIVO, todos os sábados as 16hs, achamos importante colocarmos a disposição informações sobre os autores.

Assim enriquecemos o debate que temos com a platéia após o espetáculo!

Ivan Izzo e Eduardo Bodstein
Diretores

Agora é a vez de Fernando Pessoa!

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a ler e escrever na língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Durante uma vida discreta, trabalhou em Jornalismo, em Publicidade, no Comércio, ao mesmo tempo que compunha a sua obra literária. Como poeta, desdobrou-se em diversas personagens conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos, na cidade onde nasceu. Sua última frase foi escrita em Inglês: "I know not what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará").

Os trechos dos textos de Fernando Pessoa que estão no espetáculo Coração Bazar são:


PASSAGEM DAS HORAS – Fernando Pessoa

Trago dentro do meu coração,
como num cofre que se não pode fechar, de cheio,
todos os lugares onde estive,
todos os portos a que cheguei,
todas as paisagens que vi,
todas as pessoas que amei...
E tudo isso, que é tanto,
é pouco para o que quero.
Não sei se sinto demais ou de menos, não sei...
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque de tão interessante que é,
a todos os momentos, a Vida,
chega a doer, a enjoar,
a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar gritos, de dar pulos,
de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas, de todas as sacadas,
e ir ser, selvagem, para a morte!
Vi todas as coisas, maravilhei-me de tudo,
E tudo... ou sobrou ou foi pouco.
E eu sofri.
Vivi todas as emoções,
todos os pensamentos
todos os gestos.
Amei e odeie como toda gente.
Realizei em mim toda humanidade!

Multipliquei-me para me sentir!
Para me sentir precisei sentir tudo,
transbordei, não tenho feito senão extravasar-me!
Ai sentir!
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
ser a mesma coisa de todos os modos possíveis!
Meu coração mercado,
Meu coração rende -vous de toda humanidade,
Meu coração clube, sala, platéia, capacho,
Ponte, cancela, viagem, leilão, feira, arraial,
Eeeeehhh lá Iáaaaa! Meu coração bazar!
Vamos, vamos!
Quem mais consigo me tornar?!
Todos os amantes se beijaram na minha alma.
Todos os vadios dormiram, por um momento,
em cima de mim.
Todos os desprezados
encostaram-se, por um momento, no meu ombro.
E no meu ombro, todo esforço quotidiano
De um povo pacífico... e limpo!
E toda a minha raiva de não conter isso tudo,
de não deter tudo isso! – as coisas belas da vida-
Falta sempre alguma coisa!
Um copo, uma brisa, uma frase...
E a vida dói quanto mais se goza
e quanto mais se inventa.
E poder rir?
Rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente roto por me roçar nas coisas,
Ferido na boca por morder as coisas,
com as unhas em sangue por me agarrar às coisas!...
E depois... me dêem a cela que quiserem
que eu me lembrarei da vida!
Eu, que fui educado pela imaginação,
Que viajei pela mão dela, sempre!
“Dizei, senhora viúva, com quem quereis se casar?
Se é com o filho do Conde, se é com seu General,
General, General...”

Vamos, vamos! Quem mais eu consigo me tornar?
Eu, que queria comer, beber,
Esfolar e arranhar o mundo!
Eu, que só me contentaria com calcar do universo aos pés
e calcar, calcar, calcar até não mais sentir...
Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe um paladar!...
Seria mais feliz – por um momento- ...

Mas eu nem sempre quero ser feliz!
É preciso ser, de vez em quando, infeliz
para se poder ser natural.
Porque nem tudo é dias de sol.
E a chuva, quando falta, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade, naturalmente,
como quem não estranha que haja montanhas e planícies.
E que haja rochedos e erva.

LIVRO DO DESASSOSSEGO


Eu nunca fiz senão sonhar.
A minha mania de criar um mundo falso
acompanha-me ainda
e só na minha morte me abandonará.
Considero a vida uma estalagem
onde tenho que me demorar
até que chegue a diligência do abismo.
Não sei onde ela me levará porque não sei nada.
Poderia considerar esta estalagem, uma prisão,
porque estou compelido a aguardar nela.
Poderia considerá-la um lugar de sociáveis
Porque aqui, me encontro com outros.
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos
nas cores e nos sons da paisagem.
E canto...vagos cantos
que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência.
Então eu gozo a brisa do Agora,
E a alma que me deram para gozá-la.
Não interrogo mais...nem procuro.
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade e na infelicidade.
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda.
E quando se vai morrer,
Lembrar-se que o dia morre, e que o

Poente é belo.
E é bela a noite que fica.
Assim é.
E assim seja.

2 comentários:

Heloísa Barrozo de Assiz disse...

Amo Amo Amo

Anônimo disse...

Elaiah....que saudade de Coração Bazar!!!

http://www.youtube.com/watch?v=ZPNqw5CdkLU&feature=related